Além de destruição, mortes, fome e desemprego, os conflitos armados no mundo causam danos ambientais difíceis de serem revertidos
As guerras entre nações sempre vão além das disputas políticas, territoriais ou religiosas. Elas causam crises humanitárias porque atingem os povos ao dizimar vítimas inocentes, desencadear fome, desemprego, precariedade na área da saúde, atraso educacional e muitos outros problemas. Poucas pessoas se dão conta, mas as guerras também prejudicam o meio ambiente. Para conscientizar o mundo sobre esse problema, a Organização das Nações Unidas criou, em 6 de novembro, o Dia internacional para a prevenção da exploração do meio ambiente em tempos de guerra e conflito armado. Para a ONU, o impacto das guerras na natureza não pode ser negligenciado.
A data é uma opção para ser trabalhada em sala de aula neste mês em que a guerra entre Israel e o Hamas ainda gera muita dor e destruição. Afinal, líderes mundiais cobram do Brasil uma postura responsável em relação à preservação das florestas, enquanto as guerras também provocam devastação ambiental.
Guerra Israel x Hamas
Faltando pouco mais de um mês para a COP28, a conferência do clima da ONU, especialistas apontam que a guerra entre Israel e o Hamas deve prejudicar avanços nas negociações. O maior evento climático do mundo ocorre a partir de 30 de novembro em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos — país do Oriente Médio, região do conflito. A previsão, segundo o jornal Folha de São Paulo, é de que haja um impacto negativo na priorização das pautas climáticas, assim como aconteceu em 2022, diante da invasão da Ucrânia pela Rússia.
Guerra Rússia x Ucrânia
Os impactos ambientais serão mais um legado terrível do conflito entre Rússia e Ucrânia. Além da devastação nos locais das batalhas, os problemas no meio ambiente poderão ser sentidos em todo o planeta, durante décadas.
Uma carta aberta publicada pela Associação de Construção da Paz Ambiental afirma que os ataques a locais civis e militares estão causando poluição do ar, do solo e da água, especialmente em um país tão fortemente industrializado. A guerra ameaça a segurança alimentar da população da Ucrânia e de outros países que dependem do trigo e milho ucranianos.
Mesmo quando a destruição ambiental não é deliberada, a guerra pode causar danos profundos. Soldados cavam trincheiras, tanques aplainam a vegetação, bombas marcam paisagens e explosivos provocam incêndios. As armas expelem gases tóxicos e partículas no ar, além de provocar o vazamento de metais pesados no solo e na água.
A Ucrânia tem 35% da biodiversidade da Europa, com mais de 70 mil espécies raras e endêmicas de flora e fauna. Cerca de 16% da área terrestre da Ucrânia são cobertos por florestas. Em 2020, as explosões da artilharia provavelmente causaram incêndios e queimaram 20 mil hectares de florestas na região de Luhansk.
Cerca de 44% dos territórios de parques nacionais e reservas naturais da Ucrânia estão na zona de guerra. Entre eles, a Reserva da Biosfera do Mar Negro, no sul ucraniano, que está ocupado pela Rússia. O local é reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como um paraíso para as 120 mil aves migratórias.
O deslocamento em grande escala de veículos – como tanques, blindados e aeronaves – em paisagens ambientalmente frágeis – afeta a biodiversidade local. Também lança poluição, estilhaços, elementos químicos poluentes e enormes quantidades de gás carbônico na atmosfera.
Em Chernobyl, na Ucrânia, a passagem recente de pessoas e veículos militares fez com que a poeira radioativa, que até então estava sedimentada no solo, fosse liberada no ar gerando um pico de radiação 20 vezes maior que o habitual. Em 1986, o local ficou famoso por registrar o maior acidente nuclear da história, após explosão de um dos reatores da sua usina de energia.
Outro problema é a utilização de táticas como a destruição de infraestruturas agrícolas e queima de colheita, visando ameaçar a segurança alimentar e os meios de subsistência, aumentando a vulnerabilidade das comunidades rurais. Esses incidentes de poluição em larga escala podem levar a impactos que vão além das fronteiras do país atacado, poluindo o ar, contaminando rios e aquíferos.
Exemplos do passado:
Iraque
No início dos anos 1990, as tropas de Saddam Hussein drenaram os pântanos da Mesopotâmia, o maior ecossistema de terras úmidas do Oriente Médio, situado na confluência dos rios Tigre e Eufrates, em resposta a um levante xiita no sul do Iraque. Uma série de diques e canais reduziu os pântanos a menos de 10% de sua extensão original e transformou a paisagem em um deserto com crostas de sal.
Em 2017, militantes do Estado Islâmico incendiaram poços de petróleo na cidade de Mosul, no sul do país, liberando assim um coquetel tóxico de produtos químicos no ar, na água e na terra.
Afeganistão
O Afeganistão foi desflorestado em até 95% em algumas áreas, em parte devido às estratégias de sobrevivência das pessoas e ao colapso da governança ambiental durante décadas de guerra. O extenso desmatamento teve múltiplas implicações sociais, ambientais e econômicas para milhões de afegãos, incluindo o aumento da vulnerabilidade a vários desastres naturais, como enchentes, avalanches e deslizamentos de terra.
A paz é o caminho
Considerando os impactos negativos que a guerra causa, tanto aos povos quanto ao meio ambiente, é importante que as nações sempre priorizem a diplomacia e o diálogo para evitar novos conflitos. As guerras ultrapassam fronteiras, afetando todo o planeta.
Como trabalhar o tema em sala de aula
Debates
Selecione artigos, reportagens e textos sobre as guerras atuais e do passado para conversar com os alunos em sala de aula.
Redação
Faça uma conversa sobre os impactos ambientais que as guerras geram e, em seguida, peça que os alunos façam uma redação sobre o tema. A abordagem e profundidade dos assuntos devem estar de acordo com a faixa etária dos estudantes.
Filmes e documentários
Se a escola tiver espaço multimídia, programe uma sessão de cinema com algum filme ou documentário sobre o assunto.
Literatura
O tema da guerra pode ser abordado por meio da literatura. A Colli Books Editora sugere o livro Ahmed foge da Guerra, da escritora Isa Colli, para ser trabalhado em sala de aula.
De maneira sensível e profunda, o título conduz os leitores por uma jornada emocionante e, ao mesmo tempo, educativa, explorando os desafios enfrentados por crianças e jovens em situações de conflito.
Ahmed, o personagem principal, é um jovem que se vê forçado a fugir da sua terra natal com a família devido a um conflito devastador. Isa Colli apresenta aos leitores os desafios, medos e esperanças de um garoto que busca refúgio e segurança. O drama vivido por Ahmed não apenas aborda os horrores da guerra, mas também ressalta a capacidade de resiliência das crianças em situações adversas.
O texto é enriquecido por ilustrações encantadoras de Isabella Barbosa, que complementam a narrativa e aprofundam a compreensão do enredo, tornando a experiência de leitura ainda mais envolvente.
O livro é uma ferramenta valiosa para reflexão sobre as consequências da guerra e a necessidade de se buscar a paz.