Por Isa Colli, jornalista e escritora

O Carnaval 2025 está em pleno andamento no Brasil, trazendo uma explosão de cores, ritmos e expressões culturais que envolvem milhões de pessoas. Os desfiles das agremiações carnavalescas e as tradicionais manifestações populares se consolidam não apenas como celebrações festivas, mas também como ferramentas essenciais para o aprendizado e a reflexão coletiva.
Essa festividade é um dos maiores exemplos de como a arte pode ser utilizada para educar e formar cidadãos conscientes. Por meio dos enredos das escolas de samba, temas históricos, sociais e políticos são abordados de maneira lúdica e acessível, promovendo conhecimento e identidade cultural para o povo brasileiro.
No Espírito Santo, as escolas de samba do Grupo Especial de Vitória também trazem temas educativos e culturais. A Unidos da Piedade escolheu um enredo sobre Ibeji, os orixás gêmeos protetores das crianças, ressaltando a importância da infância e da cultura afro-brasileira. Já a Mocidade Unida da Glória homenageia São Jorge com o enredo “O guerreiro da capa encarnada, Jorge do povo brasileiro”, promovendo reflexões sobre fé e resistência na sociedade.
Outra escola que aposta na educação por meio do samba é a Independente de Boa Vista, que destaca a trajetória do fotógrafo Sebastião Salgado, explorando seu olhar sobre questões sociais e ambientais. Com isso, a escola leva à avenida uma narrativa visual que convida o público a refletir sobre a relação do homem com a natureza e a importância da preservação ambiental.
No Rio de Janeiro, a tradição de trazer temas educativos aos desfiles segue forte. A Mangueira apresenta o enredo “À Flor da Terra – no Rio da Negritude entre dores e paixões”, que resgata a resistência dos povos africanos sequestrados de seu continente de origem e escravizados no Brasil. Já a Paraíso do Tuiuti traz a história de Xica Manicongo, considerada a primeira travesti do Brasil, promovendo discussões sobre diversidade e direitos LGBTQIA+.
A Grande Rio aborda uma temática ambiental, destacando os encantados das pororocas, seres míticos da Amazônia que vivem no encontro das águas do rio com o mar. O enredo alerta para a importância da preservação ambiental, chamando atenção para os impactos das ações humanas na natureza.
As escolas de samba de São Paulo também utilizam seus desfiles como espaços educativos e de resistência cultural. A Barroca Zona Sul, por exemplo, desfila com o enredo “Os nove oruns de Iansã”, destacando a trajetória da orixá e sua missão de conduzir espíritos aos nove céus sagrados, promovendo reflexões sobre a religiosidade afro-brasileira.
A Colorado do Brás traz o enredo “Afoxé Filhos de Gandhy no ritmo da fé”, uma homenagem ao maior afoxé do mundo e patrimônio cultural da Bahia, que carrega um legado de paz e tradição no Carnaval de Salvador.
Outra escola que aposta na consciência social é a Dragões da Real, que apresenta um enredo sobre a importância da justiça na sociedade, levando o público a refletir sobre ética, cidadania e equidade.
Além dos desfiles das escolas de samba, os blocos de rua desempenham um papel essencial na preservação cultural e na educação popular. Em Salvador, o bloco Ilê Aiyê promove a valorização da cultura afro-brasileira, enquanto no Rio de Janeiro o Sargento Pimenta incentiva o aprendizado musical ao trazer clássicos dos Beatles em ritmo de marchinha.
Em Vitória, os blocos vêm ganhando força ao destacar a identidade cultural capixaba, misturando ritmos locais e homenageando figuras históricas do estado. Esse movimento fortalece a ligação entre o passado e o presente, criando um espaço de interação intergeracional e resgate das tradições populares.
A presença do Carnaval na Educação tem sido cada vez mais utilizada como uma estratégia eficaz para levar cultura e aprendizado às novas gerações. Muitas instituições de ensino já incorporam a festividade em suas práticas pedagógicas, promovendo oficinas de confecção de fantasias, estudos sobre a história do samba e atividades de percussão.
Além disso, a inclusão do Carnaval no currículo escolar possibilita o ensino de temas como história afro-brasileira, direitos humanos e arte popular. Por meio dessas ações, alunos de todas as idades têm a oportunidade de compreender melhor a riqueza e a profundidade dessa manifestação cultural.
O Carnaval também é um espaço de reivindicação e debates sociais importantes. Em meio à festa, blocos e escolas de samba levantam bandeiras contra a discriminação racial, violência de gênero e preservação ambiental, como constatamos nos enredos a cada ano.
A avenida se transforma em um palco de resistência, trazendo à tona questões urgentes que precisam ser discutidas pela sociedade. Mais do que uma festa, o Carnaval é uma manifestação cultural e política, onde arte e cidadania caminham juntas.
O Carnaval não é apenas um espetáculo de brilho e euforia, mas uma expressão autêntica da identidade brasileira e um poderoso instrumento de transformação social que, ao promover a história, a arte e o debate sobre temas urgentes, reforça seu papel na formação cidadã e na construção de uma sociedade mais justa e informada.
Que o Carnaval 2025 inspire ainda mais reflexões, aprendizados e transformações para as futuras gerações!