Em 14 de novembro, o Brasil celebra o Dia Nacional da Alfabetização. É uma data importante que nos traz várias reflexões e desafios, já que 56,4% das crianças brasileiras não estão alfabetizadas, segundo o último levantamento do Ministério da Educação (MEC), divulgado em maio deste ano.
Em junho de 2023, o MEC lançou o ’Compromisso Nacional Criança Alfabetizada’, realizado em regime de colaboração entre União, estados e municípios com o intuito de garantir que 100% das crianças brasileiras estejam alfabetizadas na idade certa. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o processo de alfabetização infantil deve se iniciar no 1ª ano do Fundamental, por volta dos 6 anos de idade. Espera-se que a alfabetização integral dos estudantes seja finalizada até o 2º ano do Ensino Fundamental.
Sendo uma editora voltada à educação, a Colli Book lembra que a literatura tem papel fundamental no processo de alfabetização, uma vez que tal processo leva a criança à aprendizagem inicial da leitura e da escrita, além de contribuir com a formação de pessoas autônomas, críticas e reflexivas.
A mestra em Educação Básica e professora da Rede Pública Adriana Querido conta que a alfabetização e o ensino da leitura e da escrita ainda são objetos de discussão em nossa sociedade e no que se refere à qualidade da educação em nosso país. “Muitos são os estudos e trabalhos dedicados ao tema. Entretanto, ainda vemos uma enorme quantidade de crianças chegando ao final do ensino fundamental com dificuldades na alfabetização e, sobretudo, na escrita. Saber ler e escrever trata-se de justiça social e dignidade cidadã”, opina a educadora.
Adriana destaca que a leitura, tanto para crianças como para adultos, possui fins e objetivos. A especialista sustenta que, ao falar de crianças e leitura, podemos pensar imediatamente na riqueza oferecida pelos livros que circulam nas escolas e estão disponíveis ao alcance delas. As histórias auxiliam o desenvolvimento cognitivo, pois podem ajudar os pequenos a compreender a realidade, divertir-se, além de ser um bem cultural que, por vezes, marca a trajetória e características de um povo.
“A leitura não pode ser vista como algo distante ou apenas de um grupo social privilegiado. Entendemos que deve estar ao alcance de todos, sendo um processo que desenvolva a compreensão, a capacidade de ouvir o texto e interagir com ele para que possa organizar as informações necessárias a fim de promover a criticidade e atuar na sociedade com um verdadeiro cidadão”, continua a professora.
Na análise do tema, Adriana Querido ressalta que é importante falar sobre alfabetização e letramento. Ela cita a educadora e pesquisadora mineira Magda Soares, falecida em 2023 aos 90 anos, que é uma referência no assunto, já que pesquisou a alfabetização infantil por meio de uma perspectiva multifacetada, integrando análises de métodos de ensino com perspectivas sociais, políticas e históricas. “De acordo com Magda Soares, alfabetização e letramento são processos cognitivos e linguísticos distintos, portanto, a aprendizagem e o ensino de um e de outro é de natureza essencialmente diferente; entretanto, as ciências em que se baseiam esses processos e a pedagogia por elas sugeridas evidenciam que são processos simultâneos e interdependentes. Concordamos com a autora e entendemos que são processos que ocorrem juntos, não devendo priorizar um em detrimento do outro, mas ao alfabetizar precisamos ter a preocupação de formar leitores e não apenas decodificadores do código”.
Ainda de acordo com a autora, a alfabetização é a aquisição da tecnologia da escrita e o letramento é o uso dessas tecnologias em prática sociais. “Entretanto, podemos ver em nossa sociedade pessoas que são letradas, ou seja, possuem conhecimentos, habilidades e estratégias que os permitem interagir na sociedade, em suas comunidades e viverem por toda uma vida, pois sabemos que somos inseridos em uma sociedade letrada e organizada em torno das práticas discursivas”, acrescenta Adriana.
A educadora chama a atenção para o papel da família neste processo. “No presente século, com a dominação das tecnologias de informática, telefones celulares e outros objetos ligados à internet, sabemos que é um atrativo para crianças e adultos. Nesse sentido, a família precisa caminhar junto com a escola promovendo o incentivo à leitura em suas casas, realizar pequenas propostas para que as crianças tenham oportunidade de ler e apresentar os conhecimentos adquiridos no espaço escolar”, afirma.
“A criança se sente confiante quando alguém a acolhe e acolhe o seu aprendizado. Para ela, ler em casa e demonstrar conhecimento para a família é muito importante, pois é junto aos seus pares e em seus lares onde se sente confortável e motivada a demonstrar os novos conhecimentos, a leitura se torna prazerosa e sabe que o que aprende faz sentido e não fica apenas na sala de aula”, completa a mestre em Educação.
Como dica, Adriana sugere que a criança prepare uma lista de mercado, anote telefones, bilhetes em geladeira, cartinhas para pessoas distantes e, sobretudo, tenha a família como exemplo de que o uso do celular tem hora para ocorrer e hora para guardar.